“Vasculho uma caixa de papelão entulhada de fotos”. É a partir dessa imagem performática da memória, enunciada na primeira pessoa do singular, que somos convocados a entrar no texto de Flávia Péret e acompanhá-la em sua peregrinação. Busca-se, a partir do acervo fotográfico do pai, uma história particular e coletiva, encoberta há tantos anos, um segredo guardado dentro do corpo (e das minas) e que evoca tantos outros corpos, anônimos, também, adoecidos pela febre do ouro e pela sanha, incessante, da mineração.
Um texto duplo, entre o ensaio e a ficção, e que investiga o dispositivo palestra-performance ao mesmo tempo que o realiza. Flávia Péret não encena apenas o encontro entre o pai e a fotografia, mas, também, entre a filha e os retratos do pai, ao narrar a descoberta (e o aprendizado) de uma nova língua.