“O livro Sobrevivências da imagem na escrita: Michel Butor e as artes tem o grande mérito de conseguir aproximar o leitor da obra de Michel Butor, um desafio arriscado. Deixemo-nos guiar por Márcia Arbex, pela originalidade de sua percepção e a perspicácia de seu espírito analítico, através da obra do artista-escritor-crítico Michel Butor. Eis uma obra avessa a qualquer rótulo, um campo movediço de deslocamentos e experimentações que vai muito além de uma conexão incerta com o Novo Romance francês — em 1958, um ano após a publicação do consagrado La Modification, Roland Barthes escrevia “Não há escola Robbe Grillet”. Butor era, e permanece, Butor.
A obra do escritor-viajante é marcada pela diversidade e mobilidade incessante, a profusão e a complexidade, abraçando intermidialidade e cruzando fronteiras entre gêneros, entre as letras e as artes e outros campos do saber, uma obra “inclassificável e desconcertante” nas palavras de André Clavel. No entanto, nos é permitido caminharmos juntos, leitores e Butor. O roteiro sugerido longe de categorizar e classificar o heterogêneo a partir de conceitos e teorias, revela perfeito equilíbrio entre rigor acadêmico e sensibilidade apurada de exploradora, delicadeza e ousadia de quem não receia escavar caminhos inéditos, sem se perder nem cortar seu fio de Ariadne: os modos de sobrevivência da imagem na escrita. Sentimo-nos acolhidos na galáxia Butor, o “chiffonnier-poète”, segundo a bela expressão de Mireille Calle-Gruber, prestes a compartilhar a visão plural de um mundo que o poeta sabia reciclar, ávidos enfim de mergulhar na fruição de um fazer artístico intermidial e coletivo.”
Texto de orelha de Martine Kunz