“No início do verão, Serge July me perguntou se eu considerava, entre as coisas possíveis, escrever uma coluna regular para o Libération. Hesitei, a perspectiva de uma coluna regular me assustava um pouco, depois disse a mim mesma que poderia tentar. Nós nos encontramos. Ele me disse que o que queria era uma coluna que não tratasse de notícias sobre política ou de outra ordem, mas de notícias paralelas a essas, acontecimentos que me teriam interessado e que não necessariamente haveriam sido capturados pelo noticiário habitual. O que ele queria era o seguinte: todos os dias durante um ano, não importava o tamanho, mas todos os dias. Eu disse: um ano é impossível, mas três meses, sim. Ele me disse: por que três meses? Eu disse: três meses, a duração do verão. Ele me disse: está bem, três meses, mas então todos os dias. Eu não tinha nada para fazer naquele verão e quase cedi, e depois não, tive medo, sempre aquele mesmo pânico de não dispor dos meus dias inteiros abertos ao nada. Disse: não, uma vez por semana, e as notícias que eu quisesse. Ele concordou. Os três meses foram cobertos, à exceção das duas semanas do final de junho e início de julho. Hoje, nesta quarta-feira, 17 de setembro, entrego os textos de O verão de 80 às Éditions de Minuit. Era disso que eu queria falar aqui, dessa decisão de publicar estes textos em livro. Hesitei em passar a esta fase de publicação destes textos em livro, era difícil resistir à atração da sua perda, a não deixá-los onde foram publicados, no papel de um dia, espalhados em edições de jornais destinados a serem jogados fora. E então decidi que não, que deixá-los nesse estado de textos inacessíveis teria realçado ainda mais – mas com ostentação duvidosa – o próprio caráter do Verão de 80, ou seja, segundo me pareceu, o de me perder no real. Disse a mim mesma que bastavam os meus filmes em frangalhos, espalhados, sem contrato, perdidos, que não valia a pena levar a esse ponto uma carreira de negligência.
Era necessário um dia inteiro para entrar no noticiário, era o dia mais difícil, muitas vezes a ponto de me fazer desistir. Um segundo dia era necessário para esquecer, para me retirar da escuridão desses fatos, da sua promiscuidade, para reencontrar o ar ao seu redor. Um terceiro dia para apagar o que havia sido escrito, escrever.”
__Marguerite Duras