“Você tem em mãos a última obra escrita por um dos mais influentes estetas da segunda metade do século XX e do início do século XXI — Arthur Danto —, falecido em 2013. Seu pensamento, como o de tantos outros filósofos no âmbito anglo-saxônico, teve origem numa abordagem da filosofia analítica da linguagem, especialmente na sua versão fortemente influenciada por Ludwig Wittgenstein. Desde o início de sua carreira, porém, diferentemente da ortodoxia tão peculiar a essa corrente de pensamento, Danto se interessou por filósofos muito distanciados dela, tais como, por exemplo, Hegel e Heidegger, sem falar nos seus livros monográficos sobre Nietzsche e sobre Sartre.
Um pouco à revelia do projeto intelectual do princípio de sua carreira, Danto produziu uma das obras mais incontornáveis da estética contemporânea, tendo como motivação inicial o seu espanto diante das Brillo Boxes, de Andy Wahrol, expostas pela primeira vez na Stable Gallery, de Nova York, numa mostra de 1964. Esse espanto gerou, de imediato, um artigo, que já é considerado “clássico”, intitulado “O mundo da arte”, em que Danto inicia a indagação que ocuparia boa parte de sua filosofia da arte ao longo de décadas, a qual pode ser assim resumida: se as caixas da esponja ensaboada da marca “Brillo” produzidas por Wahrol são perceptualmente idênticas às que se encontram nos estoques dos supermercados, o que nos permite afirmar que aquelas são obras de arte e essas não o são?
Os livros subsequentes de Danto, tais como A transfiguração do lugar comum, O descredenciamento filosófico da arte, Após o fim da arte e O abuso da beleza, dentre outros, enfocam, sob diversos pontos de vista — com destaque para a retomada do locus hegeliano sobre o fim da arte — essa mesma questão, que, no fundo, diz respeito à definição da arte, ou, posto de outro modo, a O que é a arte— não por acaso o título deste livro, cuidadosamente traduzido por Rachel Cecília de Oliveira e Debora Pazetto. Nele, Danto não apenas repete a definição de arte consagrada em A transfiguração do lugar comum, mas lhe acrescenta algo novo: “Decidi enriquecer minha definição de arte — significado incorporado — com outra condição que capta a habilidade do artista. Graças a Descartes e Platão, definirei arte como ‘sonhos acordados’”.
Texto de orelha de Rodrigo Duarte