“Tratamos de investigar João Guimarães Rosa na perspectiva do káos grego: espaço hiante, abertura, apetite, potência; e do kósmos: ordem, ornamento, construção. Além disso, pusemo-nos a investigar, igualmente — mas em outra visada — a presença dos clássicos greco-latinos no Grande sertão: veredas do mineiro. Olhamos e observamos palavras e cenas em movimento e em projeção imaginária, χάος. Elas foram nossos lêmures: fantasmas, duendes e trasgos. Esses seres, criaturas amiúde divertidas, garrulantes e traquinas, outras vezes assustadoras, difusas e imiscuídas — ocultas na cerração — e, vezes mais, tão diáfanas que parecem ilusão e duvidamos de sua existência, são seres feitos de letras, sons e formas linguísticas soltas no ar pela voz de outr’era enunciada. De forma precária, tentamos ensacá-los neste livro: odre de ventos.
(…)
Na sua pequenez esmerada, apontam para o desejo metafísico. São bons e maus, e estão por aí, por toda parte onde se possa fazer hermenêutica literária. Também se acham e se despregam em voo nas grandes obras e naquilo que seus autores leram, guardaram para si e contaram — de modo cifrado — para nós. Mas, paradoxal ou logicamente, muito de nossa investigação se deve ao concreto: a visita e a consulta das anotações marginais dos livros de metafísica e religião alocados na biblioteca do diplomata de Cordisburgo.”
Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa