Texto de orelha de Luiz Camillo Osorio – Departamento de Filosofia da PUC-Rio.
“Escrevo a orelha deste livro a partir de um lugar privilegiado: ter sido aluno durante anos da Katia Muricy. Com isso, acompanhei de perto o desenrolar dessas reflexões agora vindas a público. O seu convívio com estes três autores paradigmáticos – Nietzsche, Benjamin e Foucault – acontecia em paralelo, ao longo dos anos, alimentando uma mesma interrogação crítica, um mesmo interesse pelos entrelaçamentos entre filosofia e arte, experiência e verdade. Talvez o mais estimulante na leitura destes ensaios é ir percebendo como a experiência da verdade – tema tão caro e crucial à filosofia – vai sendo construída no seu embate com a arte e atravessada pelas questões relativas à linguagem, à modernidade, à história. O desafio é claro: ir além do pensamento metafísico e, simultaneamente, resistir à pobreza de experiência que cresce à medida em que aumenta o deserto a nossa volta.
A crítica de arte e sua dimensão filosófica é tema recorrente, perpassando vários momentos do livro; afinal, “a condição de possibilidade da crítica é o declínio de uma concepção metafísica de verdade”. Ela, a crítica, tem a função de salvar a arte, os fenômenos singulares, efêmeros por natureza, do seu mero diluir-se no devir. Neste aspecto, como nos ensina a autora, a dimensão crítica obriga a filosofia a ser fiel ao singular. Seja no trato com a poesia ou com a pintura, seja discutindo a alegoria, o sublime, o estilo, em cada um dos ensaios “a forma filosófica seria o esforço incansável de avivar a força figurativa das experiências singularizadas, criando sempre novas vivências”.
Pensar com as obras de arte é, assim, recuperar o que há nelas de compromisso com a vida. Uma vida que se mostra através das formas. Restituir esta vida é, acima de tudo, uma potência criativa que desdobra a reflexividade da obra no tempo, na urgência do agora. Os três autores visitados nestes ensaios lutaram pela complementariedade entre filosofia e vida, entre as formas de pensar e de se engajar no mundo. Nos tempos difíceis em que vivemos, voltar a estes autores, debruçar-se sobre o que neles é um esforço contínuo de ir além do sabido, é um convite para seguirmos atentos e resistirmos. Este livro de Katia Muricy veio em um momento oportuno.”