“Encontramos neste livro o resultado, plenamente maduro, de um longo percurso de pesquisa iniciado por Isabela Pinho ainda no mestrado, no Departamento de Filosofia da UFF, e desenvolvido em sua tese de doutorado defendida na UFRJ, agora publicada. Lembro bem que a questão – ou, melhor dizendo, a inquietação – do feminino, desde o início, caracterizava a singularidade da voz da jovem pesquisadora e animava o seu “tagarelar” – palavra que ela contribui para valorizar positivamente a partir da tradução e do comentário da “Metafísica da juventude”, de Walter Benjamin.
É essa voz inquieta, verdadeiramente atravessada por sua motivação de pesquisa, que reencontro com prazer nas páginas de Feminino e linguagem: itinerários entre o silêncio e o tagarelar. Agora madura, ela ainda soa, com sua urgência intensa, na clareza de uma argumentação filosófica consistente, muito bem fundamentada, que tece instigantes diálogos entre Benjamin, Agamben e Lacan no intuito de pensar relações entre a linguagem e o feminino.
Como ocorre frequentemente com mulheres formadas pelas textualidades da tradição filosófica, a voz singular de Isabela Pinho se constrói na confrontação com muitas referências masculinas, que são comentadas e discutidas, num fino trabalho de releitura. Sua força de inovação me parece estar justamente em trazer um “ponto de vista situado” – para retomar a expressão de Donna Haraway, citada na introdução deste livro –, perspectiva que descobre, na Bildung filosófica tradicional, massivamente masculina, aquilo que não foi “carregado em cortejo”, valorizando também contribuições de outras mulheres.
Daí a questão central desta obra ser uma verdadeira inquietação – mais propriamente o mote de um tagarelar e o motor de um pensamento silenciosamente em processo do que um conceito a ser confinado em sua definição.”
Patrícia Lavelle (PUC-Rio)