No primeiro parágrafo de “Perto do Coração Selvagem” (1943) aparece “uma orelha à escuta, grande, cor-de-rosa e morta”. Em “A hora da estrela” (1977), o narrador diz “[eu] escrevo de ouvido”. Dessas duas frases, nasceu este livro, escrito quando a autora ensinava literatura brasileira na Universidade de Stanford. Publicado em inglês, o livro chega agora, finalmente, de volta à origem de sua língua materna, em tradução de Jamille Pinheiro Dias e Sheyla Miranda.
O livro de Marília Librandi pensa a literatura brasileira pela sua capacidade de escuta e pelas reverberações éticas, estéticas e poéticas do imaginário. Clarice Lispector é lida como ficcionista e como fonte teórica de uma “escrita de ouvido”, de um “romance da escuta”, e de uma “ecopoética”. São esses os termos que Marília elege para falar de um “Perto do Coração Selvagem”, pulsante e pictórico, da voz muda de Macabéa, do tic-tac da máquina de escrever, tratada como pessoa por Clarice, das muitas imagens áudio-uterinas de “Água Viva”, e do Eco de Janair e da vibração do inseto no corpo da escultora G.H, e de uma Clarice-Centaura, autora de textos híbridos entre a filosofia e a ficção.
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