“Charlotte-peixe-borboleta” traz o texto da peça-monólogo “Para Lembrar Eu Solo”, escrita pelo dramaturgo e dirigida em 2013 por Cristina Tolentino. Nesse texto lemos a história de Charlotte, que não é só uma, mas vários e vários. Personagem atravessada por diversas vozes, Charlotte busca, na polifonia da palavra, se lembrar e recuperar a memória de histórias que, sim, já foram ditas, mas que são sempre esquecidas e, por isso, é necessário que se conte de novo e de novo.
Do texto de orelha de Ana Martins Marques:
“O hífen une e separa, une porque separa, aproxima porque distingue; nem identidade completa, nem total separação, mas um laço, forte e fraco. Eu sou isso que não sou, parece dizer Charlotte, eu sou essa distância de mim para mim mesma. “A gente”, ela diz, “não é só a gente”. Charlotte é forte e fraca, ou antes, tem como personagem uma espécie de força fraca. Nem é, talvez, propriamente personagem, já que não se delineia de todo. É uma voz, única (a peça é um monólogo), mas múltipla (porque muitas vidas aí se insinuam, ou, antes, porque aí se insinua o que há de múltiplo em uma única vida). ‘A gente não é só a gente'”.
Do Prefácio de Tatiana Pequeno:
“Charlotte procura o eixo, a expressão, a língua, o norte, tudo o que a referida ética exige, mas Charlotte é um peixe, uma borboleta. Para a gramática normativa que previu para ela fogueiras, grades e lanças para os que dela se aproximarem, Charlotte é a histérica, a puta sedenta e covarde que trai a natureza da perpetuação da espécie por não aceitar a origem da sua violação. Charlotte é uma mulher. Mas poderia ser também alguém que não é bem-vindo ao mundo da livre-iniciativa. Porque Charlotte é lenta. Charlotte levou anos para conseguir dizer a sua história de diários e confidências”.