O conjunto de textos que compõem o mais novo livro de Vera Follain de Figueiredo apresenta, com lucidez e precisão, importantes impasses constituintes da cultura midiática dos nossos tempos. Atenta a formulações decorrentes de nossa experiência complexa e contraditória de modernidade, a autora desenha um significativo panorama acerca das questões que regem nossa vida cultural. Assim, o estatuto contemporâneo da arte e das imagens, as políticas de representação em âmbito midiático, os limites entre as linguagens, o papel dos agentes culturais e as relações entre tecnologia, subjetividade e regimes de visibilidade, dentre tantos outros temas imprescindíveis, são contemplados pela leitura arguta e corajosa da autora.
Vera Follain de Figueiredo não hesita em enfrentar tais discussões, partindo de ambivalências e contradições que elas próprias suscitam, e, desse modo, introduz um novo papel a ser desempenhado pela crítica da cultura, distanciada das improdutivas fronteiras que regulamentavam os clássicos limites da arte e da política. Os artigos não apenas organizam um percurso crítico pelas manifestações da nossa cultura contemporânea – nas quais a literatura e o cinema ganham destaque – mas, sobretudo, nos desafiam a repensar o próprio campo dessas expressões artísticas como produtoras de sentido na sociedade, organizada sob novos estatutos éticos e estéticos. Num dos artigos, a autora indica uma importante perspectiva de leitura para esse conjunto de textos ao escrever: “narra-se para imprimir sentido ao caos dos acontecimentos, para tentar resolver o enigma do mundo”.
Em última instância, este novo livro nos convida a pensar o mundo, e o cotidiano, como narrativa, com todos os seus desafios e dificuldades, desconfiando de antigos regimes de percepção e de análise desses acontecimentos, e propondo novos parâmetros para a leitura crítica da cultura e da sociedade contemporâneas.
Maurício Bragança – Professor do Programa de Pós-Graduação em Cinema da UFF